sexta-feira, 13 de junho de 2008

Tarde quente de futsal

O japonesinho da AABB de Nova Esperança faz golpe de vista. A bola passa raspando a trave. A mãe dá um suspiro. O pai solta um palavrão e exclama: “Que golpe de vista é esse?” Os pais do ala-direita do Teuto estão apreensivos. O pai não pára de gritar. Enquanto isso a mãe fuma um cigarro atrás do outro. O pai do fixo do time chega atrasado. A equipe está perdendo. Ele dá instruções para o filho.
O tempo está quente na quadra e fora dela. Latinhas de cerveja e de refrigerantes são esvaziadas rapidamente. O calor dentro do ginásio do Marista está demais. São os jogos decisivos da categoria pré-mirim do Campeonato da Liga de Futsal de Maringá. A AABB venceu o Teuto forçando uma partida extra com o Marista, que vence o jogo seguinte contra o Escritório Espacial.
O treinador do time de Nova Esperança abraça cada um dos jogadores. O do Teuto faz o mesmo com seus atletas. Para quem gosta de futsal, que não tem filhos atuando e nenhum envolvimento com as equipes finalistas, o resultado foi o que menos interessou na tarde do último sábado.
O interessante foi acompanhar o espírito de luta de todos os atletas-mirins. Alguns a gente percebe que vão se tornar feras do esporte. Pela habilidade, visão de jogo e a forma de proteger a bola e chutá-la. Mas nem isto é importante. O fundamental em competições de categorias menores não é revelar craques, mas tornar os garotos amantes do esporte.
Dar ao menino uma bola para ocupar o tempo livre é um ato de amor. O meio caminho andado para livrá-lo de qualquer vício. Também essa interação de pais e filhos é ótima. Quase todo o pai sabe do potencial do seu filho.
Independente de ele vir a ser um jogador profissional, o que vale é incentivar o garoto, mostrar a ele que admira o seu esforço e que vitórias e derrotas são simplesmente contingências do jogo. Ou da vida.
Um sábado quente como outro qualquer. Uma bola rolando pela quadra de tacos levando o sonho das crianças. O amor pelo futebol começa cedo. De pai para filho esta paixão é transferida com igual ou maior intensidade. A vitória é do esporte.

(Livro Da minha janela, publicado em 2003)

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